domingo, 7 de agosto de 2011

Don Juan DeMarco

  
 



A Lenda: 

 A origem da lenda de Don Juan é obscura, mas sua essência é apreciada há séculos. Don Juan era supostamente espanhol, italiano ou português. 

Sua lenda, no entanto, foi desenvolvida pelos ingleses, um povo muito mais frio, mas com um desejo ardente de calor.

O império da rainha Vitória, no final das contas, acabou incluindo incontáveis ilhas idílicas, com palmeiras e enseadas de águas quentes.

A Inglaterra também produziu as obras de um romântico de sangue quente e fascinante sensibilidade, George Gordon, Lord Byron, propenso a aventuras românticas de vários tipos, desde jovem.

Ele amou as ilhas gregas e um rol interminável de mulheres. Foi o autor de Don Juan, um relato longo e encantador da lenda em versos, satíricos mas doces. 

Alguns ingleses, mesmo hoje, têm memorizado longos trechos do poema, e o sussurram para uma jovem receptiva, se o cenário é apropriado e o ânimo bastante inebriante.

O outro homem que manteve viva a lenda de Don Juan foi Wolfgang Amadeus Mozart, o compositor da ópera Don Giovanni, em que o insidioso mas adorável Don Juan é consumido pelas chamas do inferno, mantendo sua atitude de desafio até o fim. 

Poucos homens podem cantarolar os grandes temas dessa ópera, mas ninguém que a tenha assistido jamais poderá esquecer o repúdio final de Don Juan a qualquer responsabilidade e arrependimento.

Nesses dois relatos da lenda, mulheres em grande quantidade descobrem que Don Juan é absolutamente irresistível. Seu charme é total, sua atração incomparável. Ele é sempre cortês. 

Nunca tenciona prejudicar ninguém, e embora mantenha um registro de suas conquistas, não se mostra tão interessado assim na contagem, mas sim no bom desempenho. Jamais se considera agressivo, mas simpático.

Don Juan nunca envelheceu, sendo consumido pelo fogo infernal antes que as rugas e cabelos brancos surgissem. Na lenda, permanece jovem para sempre. 

E nem o compositor nem o poeta de Don Juan alcançaram a meia-idade, talvez não o desejassem. Mozart morreu aos 35 anos. Byron morreu na Grécia aos 36.

Todos reconhecemos o devoto da lenda quando o encontramos numa festa ou sala de reunião, ou mesmo em anúncios na seção de classificados pessoais dos jornais, embora hoje em dia quase nunca se apresente máscara, espada e capa; pode até ser percebido disfarçado num corpo que perdeu a juventude, mas continua vigoroso. 

É com freqüência charmoso, mas se torna mais astuto a cada dia, à medida que as mulheres se mostram mais propensas ao riso. Seus anseios são extravagantes e seu profundo apego ao passado é um tanto comovente. Devemos tratá-lo com ternura, sabendo muito bem que se trata de uma antigüidade. 

Como as figurinhas de beisebol ou o livro de Kells, é algo a ser preservado e apreciado com carinho, mas que não se pode usar de novo. Don Juan e seus herdeiros, no entanto, não aceitam de bom grado serem relegados ao passado.


.......................................... 


 

A Obra: Carta de despedida:
 

 Quero encerrar minha vida por causa de um coração partido. A mulher responsável por isso é Doña Ana, minha gloriosa mas perdida alma irmã. Um mundo em que devo viver sem minha querida Doña Ana é um mundo em que não mais desejo permanecer, embora ainda seja o maior amante do mundo. Fiz amor com mais de mil mulheres, um recorde extraordinário para um homem de tão pouca idade quanto eu.

Como a música, ginástica ou patinação artística, o jogo do amor produz de vez em quanto um prodígio, desabrochando cedo e com intensidade. Sou um prodígio assim. O próprio Zeus pode ter me superado em variedade de espécies experimentadas, mas nunca em ardor. Nenhu ma mulher jamais saiu de meus braços insatisfeita, mas isso não tem a maior relevância, agora que perdi a única mulher que já me importou.

Assim, no vigor da vida, aos vinte e um anos, decidi encerrar minha vida esta noite.

A incomparável Doña Ana foi outrora toda minha, mas a perdi para sempre. Naufraguei, fui arrastado para a praia como uma massa de algas, encontrado por uma linda jovem, e depois lançado de novo nas profundezas. 

Afeições frustradas, esse é o meu problema. Mas ao ler minha história, estranho, pense numa praia ensolarada, café e ouzo, nos ombros dourados de uma virgem vestida de seda, cantando inocente ao lado das águas amnióticas do Egeu.

Você dirá, sem dúvida, que eu a tive, no final das contas. Nus nos engalfinhamos, enquanto iates passavam. Uma poupa empoleirada no alto de uma coluna de templo em ruínas contemplou nosso acasalamento acrobático, com um espanto de ave.

Ficará perplexo com minha determinação em morrer, considerando a rede de desejo que tecemos em torno de nossos corpos, o dar e receber, sempre experimentando, desinibidos, belos como o peixe-lua.

Ela foi minha, você vai pensar, este garoto desfrutou as liberdades mais ardentes, os segredos mais íntimos de sua amada, e a possui por completo.

Estaria enganado, você que me julgou tão tolo, porque foi ela, por uma vez e para sempre, que me possuiu. Ali, na ilha mágica, no fresco ar marinho, perfumado por madressilva e tomilho, à sombra das oliveiras, na mesa de piquenique, ela tomou o que fora antes meu coração e o jogou fora.

Lascívia não é substituto para o amor. Meu gênio foi nunca Ter dado menos que as duas coisas a nenhuma mulher. Roliça ou magra, loura, morena ou de cabelos azuis, extraí o melhor que havia em cada uma, até o acidente de navegação que me lançou naquela praia infernal, onde cortejei e perdi minha querida Doña Ana.

Meu amor pertence agora, para sempre, a essa única e adorável mulher. Nunca mais entregarei todo o meu coração a cada doce jovem, como outrora fazia. Doña Ana me possui, e fugiu de mim, sem qualquer boa razão. Destruiu nossa felicidade, e me deixou apenas com indagações. 

Por que ela acabou com nossa perfeita bem-aventurança? Por que todas as minhas súplicas foram em vão? Por que meu sacrifício mais sincero foi inútil? Por que ela foi embora de nosso Paraíso sem olhar para trás? 

Doña Ana me deu o melhor motivo para me lançar no olvido, mergulhar na eternidade. A memória, como um véu, obscurece minha vista, pior do que minha máscara de seda preta jamais foi. Não posso mais avistar um caminho para continuar por este mundo frio e cruel.

Não sei o que ela está sentindo. Creio que pode estar arrependida, sufocada pelo pesar. Gostaria de pensar que ela sente saudade de mim, e que acha todos os piqueniques secos e insossos, depois do requinte das refeições que partilhamos.

Seria agradável pensar assim. Mas talvez eu nunca saiba se ela sofre tanto quanto eu. Aquela donzela simples, a quem dei meu amor irrestrito, talvez nunca tenha apreciado que amor excepcional abandanou quando me rejeitou.

Doña Ana me deixou apenas as cinzas do amor, me deixou apenas a sofrer as pontadas amargas da r ejeição. Outros podem conhecer essa dor alarmante, a terrível humilhação de ser rejeitado por uma mulher. 

Nunca fui repelido antes daquele dia. Minha vida smpre fora de felicidade e amor, idolatrado pelas mulheres. Todas sempre me adoraram, e eu a elas, até que Doña Ana fugiu de mim naquela tarde angustiante. 

Depois que ela partiu, vagueei pela ilha por dias. Era como um cachorrinho órfão, chamando e chamando seu nome. 

Olhava sob as moitas e em cavernas, indagava por ela em cada porto, em cada taverna, perguntava aos turistas que desembarcavam dos iates, aos marinheiros e às velhas na praça da aldeia, queria saber se alguém vira minha Doña Ana. Procurava e procurava, sem jamais encontrá-la.

Quem quer que encontre esta mensagem, suplico que mantenha a visão dessa mulher deslumbrante e desaparecida pairando em sua memória, como ela assoma para sempre na minha. 

Sua imagem atormenta cada momento de vigília meu, talvez ainda mais tantalizante para você, que nunca a viu, do que para mim, já que desfrutei a bem-aventurança, além da desgraça. 

Imagine os joelhos com covinhas do corpo nu perfeito, alegre ao sol de uma ilha tropical, lembre a fragância de flores e algas, prove o gosto salgado de uma brisa quente, e depois pense que tudo gira ao seu redor, que se encontra no próprio coração desse banquete para todos os sentidos e sentimentos, que cada movimento seu apenas aumenta o prazer, que nunca se cansa, nunca tem fome, nunca fica triste, mas está sempre envolto pela bem-aventurança. 

Lembrei de lhe contar que a túnica de seda branca de Doña Ana fluía em torno do corpo gracioso, até os pés delicados, de tal forma que ela parecia uma sereia enquanto corria de mim? Contei isso? É tarde demais agora. Estou partindo para o olvido.

 ...........................................


 

Trechos da obra:  

" -- Meu nome é Don Juan De Marco. Sou filho do maior espadachim, Antonio Garibaldi De Marco, que sofreu uma morte trágica, ao defender a honra de minha mãe, a linda Doña Inez Santiago y San Martine. "
 
"  -- Nunca me aproveito de uma mulher. Proporciono prazer às mulheres, se elas assim desejam. "

" -- Peço desculpas por essa demonstração pouco viril, Don Octavio. Mas o coração é como o céu... uma parte do Paraíso, esquentado pelo sol, penetrado pelas estrelas, e depois de calcinado e perfurado é coberto por nuvens, as tempestades definham em gotas d´água... e os olhos ao final derramam o sangue do coração, convertido em lágrimas. "

" Uma hora depois, Don Juan, em traje completo, embora sem a máscara e a espada, estava dançando o flamenco diante dos olhos aturdidos de Bill Dunsmore. Mesmo assim, Bill ainda tentou uma linha cautelosa de interrogatório:

-- Não gostaria de falar a respeito da sua tentativa de se matar?

Don Juan parou de dançar, aproximou-se de Dunsmore. O médico insignificante tentou não se mostrar intimidado. Don Juan percebeu no mesmo instante que aquela pálida imitação de homem não tinha condições de enfrentar nem mesmo um adversário de modesta habilidade.

Achou graça, em vez de se sentir ofendido, como um gato diante de um camundongo a desafiá-lo para uma luta de boxe. E decidiu brincar com a criatura. Educá-la pe lo menos um pouco.

-- Eu falar com você? Quer que Don Juan De Marco, o maior amante do mundo, converse com você, um insignificante camponês? O que você pode saber sobre o grande amor? - disse ele.

Don Juan inclinou-se para frente, de tal forma que sua respiração fragrante esquentou os lábios flácidos do aturdido médico.

-- Alguma vez já amou uma mulher até o leite vazar dela, como se tivesse acabado de dar à luz o amor, sendo agora obrigada a amamentá-lo ou explodir?

Bill Dunsmore, numa reação involuntária, sacudiu a cabeça, ao mesmo tempo em que se encolhia timidamente, dand o a impressão de que queria afundar em sua cadeira. Don Juan passou a língua pelos lábios, num gesto delicado.

-- Alguma vez já saboreou uma mulher até ela acreditar que só poderia ser satisfeita se consumisse a língua que a devorava? - Don Juan tornou a se inclinar para Bill, e continou, num sussurro - Alguma vez amou uma mulher de forma tão completa que o som de sua voz no ouvido dela podia fazer com que ela estremecesse e explodisse de tanto prazer, a tal intensidade que só o choro podia lhe proporcionar um pleno alívio?

Bill ficou temporariamente incapaz de falar. Don Juan recuou, exibiu o seu sorriso mais afável, mais nobre. Não havia necessidade de ser cruel. Ele nunca agia sem misericórdia... "

" -- Há alguns que não partilham minhas percepções, sem dúvida. Quando digo que todas as minhas mulheres são beldades deslumbrantes, há quem proteste. Não, não, dizem eles, o nariz desta mulher é muito grande, a outra tem quadris largos demais, os seios de uma terceira são muito pequenos...

Don Juan deu de ombros à mesquinhez de tais objeções.

-- ... mas vejo essas mulheres como são de fato... gloriosas, radiantes, espetaculares, impecáveis... porque não sou limitado por minha vista.

O jovem fitou nos olhos o homem mais velho e acrescentou em voz suave, com extrema sinceridade:

-- As mulheres reagem a mim como o fazem, Don Octavio, porque sentem que procuro a beleza que habita dentro delas, até que prevaleça sobre todo o resto. E depois... as mulheres não podem resistir a seu próprio desejo de liberar essa beleza e me envolver nela. "

" -- E de repente fui atingido por uma revelação. A maneira como um corpo de mulher é feito, a maneira como um corpo de homem reage, o fogo ardendo em minha virilha, o intenso desejo de se fundir em uma só pessoa... tudo se juntou num clarão brilhante. 

O êxtase de Doña Julia foi tão grande que ela sacudiu a cabeça como um cavalo de corrida, urrou como uma leoa. Beijei seu pescoço. 

A pele dela era muitos mais quente do que a minha, tão macia, tão deliciosa, que eu a beijei por toda parte, enlouquecido pela proximidade de seus segredos mais íntimos.

Don Juan considerou os maiores mistérios.

-- Amaríamos se nunca tivéssemos ouvido falar do Amor? Se a palavra 'Amor' nunca tivesse sido pronunciada por ningué m? É tudo imitação da arte, inclusive o Amor?

Ele retornou à memória de sua primeira amada.

-- Beijei os dedos de seus pés, os tornozelos, os joelhos roliços e rosados, as coxas, tudo. O amor é uma doença? Ou não passa de um fogo que tudo consome, que aquece o coração, e depois o deixa calcinado? Pode haver uma inspiração sem Amor? 

Se nenhuma mulher jamais tocasse um homem como Doña Julia me tocou, nunca acariciasse as pernas de um homem, as coxas, as nádegas, o peito, os ombros, os lábios, se nunca houvesse nenhuma experiência de paixão desenfreada neste mundo, haveria algum quadro? Alguma música? Alguma poesia? Arte de qualquer tipo?

O próprio Don Juan respondeu: - Não creio, Don Octavio. Tenho certeza de que meu interesse pelas artes nasceu naquela noite, enquanto Doña Julia se jogava sobre meu corpo ansioso, montava em mim. 

Senti-me mais do que feliz em bancar seu humilde animal de carga, enquanto ela me guiava com suas mãos, coxas e paixão incomparável. Foi naquela noite que minha primeira paixão me ensinou tudo o que jamais precisaria saber sobre o Amor.

Ele sorriu pensativo.

-- As mulheres são o mais próximo que qualquer homem poderá chegar de Deus. O sexo, meu amigo, é a suprema forma de culto. É o hino da vida, a imortalidade que nos é concedida neste mundo, a união com as estrelas, com toda a criação. 

Não poderá haver expressão maior da maravilha e da majestade de Deus do que, no processo de amor, que cria e dá significado à vida, os momentos que levam à suprema bem-aventurança, quando duas pessoas efetuam o ato de amor, como Doña Julia e eu fizemos naquela noite, à margem do rio. "

" -- A primeira mulher que amei plenamente, com toda a força do meu corpo e a alegria de meu coração, revelou-me os risonhos segredos do universo. Aprendi com ela as respostas para as únicas quatro perguntas que merecem ser formuladas:

' O que é sagrado?

De que substância é feito o espírito?

Pelo que vale a pena viver?

E pelo que, tudo dito e feito, vale a pena morrer? '

Don Juan parou de falar por um instante, pelo efeito dramático. 

-- A resposta a todas essas indagações é a mesma. A resposta, Don Octavio, é o Amor. Apenas o Amor. "







Este texto pertence à obra Don Juan DeMarco de Jean Blake White, editora Record. 





Simurgh


 
Ilustração e biografia realizadas por 
João Paulo Rodrigues (12ºL – 2010/2011)


Chamamos de Simurgh ou Simorgh a uma entidade divina persa personificada por uma ave dócil que se assemelha ao Grifo e à Fénix.

O seu surgimento é tão antigo que há a crença de que esta ave observou a destruição do mundo por três vezes. E devido a isto julgava-se ainda que possuía a sabedoria conjugada de todas as idades/épocas mundiais.


Simurgh é caracterizado pelo seu comportamento dócil e é descrito como benevolente, de carácter quase feminino e com uma feroz inimizade com cobras. A lenda afirma que possui poderes curativos de tal magnitude que só o seu toque cura as doenças mais graves.


Fisicamente este é, por vezes, descrito como tendo patas de cão, asas e a cauda de pavão e garras de leão. Devido ao seu tamanho é capaz de caçar elefantes ou mesmo baleias. Mas pelos meados do século XV ou XVI a imagem do Simurgh passa a afastar-se das semelhanças com o grifo e passa a assemelhar-se com o Huang, ou seja, a Fénix chinesa.


O seu habitat é a árvore da vida. Esta está carregada de todas as sementes existentes no mundo. Por vezes vive também na montanha Alborz, localizada na cosmologia Iraniana na mais distante costa do Mar Cáspio para o este.


O destino do Simurgh é referido como sendo, em conjunto com o grande peixe Kam, proteger a árvore da vida. É referido também que, quando levantava voo, as sementes que se encontram na árvore da vida se espalham pelo mundo dando origem à plantação de todos os tipos de árvores.


Simurgh possuia a capacidade de purificar as águas e fertilizar os solos. Numa das lend as antigas que constituem o seu legado, conta que o Simorgh viveu cerca de 1700 anos antes de se transformar em chamas, tal como a Fénix.



Bibliografia


Websites:

http://www.monstropedia.org/index.php?title=Simurgh#Art_.2F_Fiction

http://en.wikipedia.org/wiki/Simurgh

http://www.suite101.com/content/simurgh--persian-mythological-griffin-a218129






sábado, 25 de junho de 2011

mitologia japonesa.




O caos japonês

 














 
Por eras e eras a fio só havia o Caos, inimaginavelmente ilimitado e sem forma definida.
Dessa massa sem fronteiras e amorfa emergiu algo leve e transparente e formou a Planície dos Céus Elevados, na qual se materializou Ame-no-Minaka-Nushi (Deidade-do-Augusto-Centro-do-Céu).
Logo depois os Céus deram a luz a uma deidade chamada Takami-Musubi (Elevada-Augusta-Deidade-Produtora-de-Maravilhas), seguida de uma terceira chamada Kammi-Musubi (Divina-Deidade-Produtora-de-Tesouros). 
Estes três seres divinos foram chamados de As Três Deidades Criadoras.

Enquanto isto, o que era pesado e opaco neste vazio gradualmente se precipitou e se transformou na terra, mas levou um tempo imensamente longo para se condensar suficientemente e formar um solo sólido.
Em seu estágio primordial, por milhões e milhões de anos, a terra se assemelhava a uma mancha de óleo flutuante, como uma água-marinha na superfície da água.
De repente, como que jorrando por um tubo, dois seres imortais nasceram. 

Eles eram Umashi-Ashi-Kahibi-Hikoji (Príncipe-Primogênito-do-Agradável-Jorro-do-Tubo) e Ame-no-Tokotachi (Celestial-Eternamente-Pronta).
Muitos deuses então nasceram em sucessão, e assim, eles cresceram em número.

De todas essas divindades primordiais, Takami-Musubi foi a que teve mais registros posteriores. Alguns mitos o colocam como mensageiro e principal assistente de Amaterasu, funcionando como porta-voz da deusa. 
Outros dizem que ele é marido da deusa e avô de Ninigi-no-mikoto, fundador da dinastia imperial japonesa. Também existem registros de Takami-Musubi ser mulher e deusa do Sol Admirável.

Fukurokuju

 

 



Fukurokuju veio do budismo chinês para ser um dos Sete Deuses da Sorte do xintoísmo japonês. É o deus da sabedoria, vida longa e virilidade.
Seu nome é composto pelos ideogramas fuku (prosperidade), roku (felicidade) e ju (vida longa).
Baseia-se no sábio chinês Lao Tzu, que mantinha arquivos para a cor te imperial da dinastia Sung, e encarna a Estrela Polar do Sul. 
Ele era famoso por fazer milagres, especialmente no campo da longevidade e prosperidade, sendo capaz até de ressuscitar mortos.
Durante sua encarnação humana, era considerado um sennin, um filósofo capaz de viver sem comida, que adorava xadrez. Pode ser também a unificação das Três Estrelas Chinesas, Fu Lu Shou.

É representado como um velho calvo com uma alongada cabeça, corpo mirrado (cabeça e corpo teriam o mesmo tamanho) e uma longa barba branca, significando a grande sabedoria passada de gerações para gerações. 
Carrega um bastão com um hebi (pergaminho mágico com toda a sabedoria do mundo) amarrado em uma mão e um ogi (leque cerimonial).
Se aparecer com um tokkuri (cabaça para saquê), significa que está sendo confundido com outro deus da sorte, Jurojin, uma vez que suas representações são extremamente semelhantes.
Anda acompanhado de um grou, um cervo ou uma tartaruga, símbolos de longevidade.

Dizem que quem ganha uma estatueta ou pintura de Fukurokuju se torna popular e tem uma vida longa. Passar a mão na sua pontuda cabeça melhora a inteligência.






OBS.: Os outros deuses da sorte são: Benten, Bishamon, Daikoku, Ebisu e Hotei.

 

 
Ukemochi e seu marido Inari, 
como uma raposa branca.


Também chamada de Ogetsu-himi-no-kami (Grande princesa da comida), Wake-umi-nomi (Jovem mulher com comida) e Toyo-uke-bime (Princesa da rica comida), Ukemochi (Deusa que possui os alimentos) era a deusa do arroz, da nutrição e do banquete no xintoísmo.
Pode-se ver que todos os seus nomes de rivados são relacionados à comida e ao sustento em geral.

Sua lenda mais conhecida é o da sua relação com Amaterasu, a grande deusa do sol, que é contada no Nihon Shoki ("crônicas japonesas"). 
Aparece com algumas alterações, mas, basicamente, é o seguinte: Amaterasu utilizou sementes fornecidas por Ukemochi para plantar seus enormes campos de arroz.
A grande deusa pediu que seu irmão Tsuki-Yomi (em outras lendas é Susanowo) verificasse suas plantações e o trabalho de Ukemochi, quando estivesse escondida em sua caverna.

Sabendo da visita do deus, Ukemochi resolveu preparar um imenso banquete: vomitou arroz cozido (felicidade e abundância), peixe (sabedoria e abundância) e algas (alegria). Tsuki-Yomi viu a preparação e ficou tão enjoado que a matou.
Da cabeça de Ukemoch i, saíram bois e cavalos; suas sobrancelhas transformaram-se em bichos da seda; da testa brotou milho e trigo, da barriga saiu arroz e de sua genitália veio o feijão; todos símbolos de agricultura, trabalho, resistência e criatividade. 
Os feijões são conhecidos no Japão como dissipadores de maus espíritos. É dito que outros alimentos ainda saíram do corpo da deusa, como o arroz doce, a soja e o pão.
Com raiva pela morte de Ukemochi, Amaterasu decidiu nunca mais ver seu irmão e, por isso, sol e lua jamais se encontrariam.

Seu nome pode ser escrito como Uke-mochi ou Uki-mochi, e, muitas vezes, a deusa era confundida com Inari em sua versão feminina, uma vez que o deus era seu marido e assumiu suas funções divinas.
Também foi associada ao deus Toyuke Okami, responsável pelo vestuário, pela habitação e pela refeições.

Inari


Inari (ou Oinari) é o kami* japonês do alimento, importante no xintoísmo. Pesquisadores acreditam que seu nome derive de ine-nari, traduzido em algo próximo a "arroz em crescimento", apesar de não aparecer nos textos clássicos da mitologia japonesa. 
Acredita-se que sua adoração começou entre os séculos 8 e 9 d.C.

Depois que Tsuki-Yomi (deus da lua) matou sua esposa Ukemochi (deusa do arroz), Inari assumiu suas funções e tornou-se também responsável pelas safras de arroz. 
Todo ano ele/ela desce de uma montanha nos primeiros dias da primavera para fertilizar os campos de arroz, às vezes, na forma de uma raposa branca (kitsune). 
Assim, tornou-se um importante deus da f ertilidade e do sucesso na cultura japonesa.
É retratado como um senhor de barbas, carregando sacos de arros, mas, por ter assumido as funções de sua esposa, é muitas vezes retratado como um deus andrógino.


















Inari (em sua forma feminina) 
aparece para um guerreiro 
com o espírito de uma kitsune.

 

Foi adorado como fa bricante de espadas e, portanto, protetor deste ofício, dos ferreiros e dos guerreiros. Às vezes era descrito com uma espada, uma foice ou um chicote (que servia para queimar plantações, mas era raramente utilizado). 
Podia se transformar numa aranha monstruosa quando desejava ensinar lições aos homens. Existem mitos sobre sua transformação em dragão e serpente. 
As crenças xintoístas e budistas atuais preferem retirar esse lado antropomórfico de Inari, fazendo com que a raposa branca seja sua mensageira.
 Sua importância fez com que ele fosse associado a uma série de outros deuses, sendo chamado de trindade (Inari sanza) ou coletivo (Inari goza).

 



Existem muitos templos dedicados a Inari no Japão (aproximadamente 1/3 dos templos), com seus inúmeros toriis (aqueles famosos portais vermelhos) e sempre protegidos pela estátua de uma raposa. 

O principal é o Fushimi-Inara, em Quioto. Seu festival é na primavera, durante o cultivo do arroz, quando é servido aburage (um tipo de tofu frito), coalhada e feijão frito.



 
Toriis seqüenciados do templo de Fushimi-Inara



* Simplificando, kami
é a palavra japonesa para deidade, espíritos, forças naturais. É a essência da fé xintoísta. Farei um post sobre isso.




segunda-feira, 25 de abril de 2011

A LENDA DO FIO VERMELHO





O fio vermelho do destino ou fio vermelho é uma lenda chinesa.
De acordo com este mito, os deuses amarram uma corda vermelha invisível ao redor dos tornozelos dos homens e mulheres que estão destinados a ser a alma gêmea um do outro.

Segundo a lenda chinesa, a divindade a cargo do "fio" acredita-se ser Xia Lao Yue (muitas vezes abreviado para "Yuelao" , o antigo deus lunar casamenteiro, que é também responsável por casamentos.




"Um fio invisível conecta os que estão destinados a conhecer-se independentemente do tempo, lugar ou circunstância.
O fio pode esticar ou emaranhar-se mas nunca irá partir."

- Uma antiga crença chinesa.

A lenda , desde então, também se tornou um mito popular na cultura japonesa e de outras culturas da Ásia Oriental.
 

A LITERATURA CHINESA





A literatura chinesa faz parte de uma das tradições mais antigas da história da literatura mundial. 

Provavelmente, de acordo com os características peculiares do idioma chinês, a literatura chinesa não sofreu influências das literaturas estrangeiras.

Os documentos mais importantes que marcam a literatura chinesa são: o Livro Canônico dos Documentos (Chu-King), provavelmente tendo sua primeira publicação em 2.400 a.C; Primavera e Outono (Tchuntsin), livro cuja autoria é atribuída a Confúcio (ou Kung-Zi); Memórias Históricas (Chi-Ki), constituindo esta obra um dos mais vastos escritos históricos da China; e o Livro dos Versos (Chi-King).

Os principais escritores chineses foram Lao-Tsé, Confúcio, Mug-Tsé, Tu-Fu, Pohku-i, Se-kong-tu e Li-tai-pe.




PAN KU

 


As forças subjacentes a tudo o que existe no universo chinês são o Yin e o Yang. 

São opostos, mas coexistem num delicado equilíbrio: mutuamente dependentes, mas complementares. 

E eles estavam contidos dentro de um ovo cósmico gigantesco que chocava no vazio caótico primordial, junto a Pan Ku.




Com um machado, Pan Ku quebra o ovo ao meio: o leve Yin eleva-se e forma os céus com parte da casca e o pesado Yang afunda com a outra metade e se torna a terra.


 

Por 18 mil anos, trabalhou na criação, usando martelo e formão, ajudado apenas por um dragão, uma fênix, um unicórnio, um tigre e uma tartaruga. Ao morrer, tudo que era Pan Ku mesclou-se ao novo mundo:








  • seu hálito transformou-se no vento;
  • seus olhos, no sol (esquerdo) e na lua (direito);
  • sua voz, o trovão;
  • seu corpo, os relevos;
  • seu sangue, os rios;
  • seus pelos, a vegetação;
  • seus ossos, as rochas;
  • seu suor caiu como chuva; e
  • todos os seres de seu corpo - de bactérias a pulgas - povoaram a terra como animais e humanos.

O então considerado ser primordial chinês é também chamado de Pan Gu

Também é comparado a Hoen-Tsin, o caos primordial que gerou o ovo cósmico, mas parecem ser seres distintos.

De acordo com um mito chinês, Hoen-Tsin cresceu 30km por dia durante 11,5 mil anos, até que ficou maior do que universo e morreu. 

Sua morte teria sido o estopim para Pan Ku quebrar o ovo cósmico. 


 

BUDA KUAN YIN





Kuan Yin (Kwan Yin, Guan Yin ou Guanyin) é uma divindade chinesa vinda da Índia que representa a misericórdia e a compaixão, que se reflete em todos os Budas.

Acredita-se que ela era filha de um rei que a obrigou a se casar com um príncipe por poder. Mas Kuan Yin decidiu ir para um convento, onde aperfeiçoaria as práticas espirituais. 
 
Inconformado com a decisão da filha, o rei pediu às monjas que fossem duras com ela para ver se Kuan Yin desistiria do intento. 
 
A jovem percorreu o mundo e viu muita dor, mas manteve suas convicções. E o rei jamais a perdoou. 
 
Já velho e doente, mandou chamá-la. Generosa, curou-o com um toque de mão.
 
Além disso, Kuan Yin fez o voto de não ingressar no Nirvana ("paraíso") enquanto um só ser do universo precisasse de sua ajuda.
 
Ela vive, então, na ilha P'u T'o Shan, onde ouve todas as preces. 
 
Todos sabem o quanto ela é doce, sutil e poderosa. Somente a menção de seu nome alivia o sofrimento e as dificuldades e, por isso, é adorada em centros de cura (algumas imagens da deusa possuem a mão removível para que esta seja colocada sobre os enfermos).

Conta-se que a jovem segunda esposa de um comerciante chinês maltratou e humilhou a primeira mulher de seu marido, uma devota de Kuan Yin. 
 
O desgaste foi tanto que a esposa morreu. Revoltado, seu filho jurou vingança e, anos mais tarde, viu-se diante da situação ideal para matar sua madrasta.
 
Quando se lançou sobre a mulher, esta murmurou o mantra de Kuan Yin, que tantas vezes escutou a primeira esposa proferir.
 
Imediatamente, o filho foi imobilizado por uma força invisível.
 Sob o impacto do poder da deusa, o jovem saiu correndo e desistiu para sempre da idéia. 
 
E a madrasta, consciente de que não merecia ajuda, teve uma mudança radical de atitude, procurando reparar antigos erros e reconhecendo a grande generosidade da deidade.

Algumas vezes é chamada de "Capitã do Barco da Salvação", guiando as almas ao Paraíso Oeste de Amitabha, a Terra Pura, a terra das bençãos, onde as almas podem renascer para continuar recebendo instruções até alcançar a iluminação e a perfeição. Por essa razão, também é a padroeira dos viajantes.

Por mais que suas primeiras representações taoístas tenham sido masculinas, Kuan Yin é associada às características femininas de maternidade e proteção (seu nome significaria "a mulher que houve os lamentos do mundo"), e é também adorada por casais sem filhos que desejam conceber. 
 
Protege mulheres e crianças, e sua simplicidade gera clemência e fraternidade universal aos seus devotos e ao seu redor.

Kuan Yin é representada com um dragão em uma flor de lótus, os mais antigos símbolos de espiritualidade, sabedoria, força e poderes divinos de transformação. 
 
 
Algumas vezes, é representada como uma figura muito armada, tendo em cada mão um símbolo cósmico diferente ou expressando uma posição ritual específica (mudras). 
 
Frequentemente, suas mãos formam o Yoni Mudra, que simboliza o útero (princípio feminino universal) como a porta de entrada para este mundo. 
 
Os símbolos mais associados a Deusa são, portanto, o lótus branco, o vaso de néctar da longa vida e da felicidade (ou orvalho doce), um pássaro branco, o mar e os peixes, o salgueiro e a pedra (ou pérola) que realiza todos os desejos.

O coreógrafo chinês Zhang Jigang criou uma apresentação de dança para permitir ao público contemplar a "Kuan Yin de Mil Braços" em comemoração ao Ano Novo Chinês.
 
A dança foi apresentada por 21 dançarinas surdas integrantes da "Companhia de Arte Performática Chinesa de Deficientes Físicos." 
 
Posicionadas numa longa fila, as bailarinas conseguem dar aos espectadores a ilusão de que os movimentos de seus múltiplos braços e pernas pertencem à figura de uma única deusa. 
 


No Vietnã, é conhecida como Quan'Am;
no Japão, é Kannon
no Tibete, Tara;
e em Bali, Kanin
Na mitologia grega, é associada a Ártemis e, 
no Catolicismo, é associada a Virgem Maria.